sexta-feira, 13 de abril de 2012

E se tudo o que você tem estivesse numa sacola plástica?

Escolha apenas uma e carregue sua vida nela! Será que dá?



Essa foi a pergunta que não me deixou em paz ontem.

Tarde de chuva em São Paulo e todo mundo correndo pra se abrigar. Eu fazia o mesmo e, por sorte, o abrigo era o próprio ponto de ônibus. Tinha muita gente embaixo do "minhocão" esperando o ônibus. E aí, uma das coisas mais bacanas dessa cidade: tem tudo quanto é tipo de gente. Engravatados, saltos-altos, shortinho e chinelo! Mas São Paulo também tem muita gente morando na rua. E, embaixo do "minhocão" eu tive uma daquelas experiências que doem, mesmo sem serem suas.

Uma mulher (talvez com idade da minha mãe) mancava segurando fortemente uma sacolinha plástica numa das mãos. Ela zanzava no ponto de ônibus pedindo ajuda. Nessas horas a gente vê todo o tipo de reação. Susto, medo, receio, incômodo, piedade e até raiva se estamparam nos olhares dos meus companheiros de abrigo. A verdade é que quase ninguém ajudou a mulher. Uns não podiam, outros não queriam. Muitos seguiam a recomendação de não dar esmolas, que vemos na maioria das cidades hoje em dia. Não cabe a mim julgar o que é certo ou errado, até porque eu mesma não sei o que fazer e naquele instante, não fiz!

Não consegui parar de prestar atenção na cena. Durante os quarenta minutos de chuva forte e espera, a mulher continuava zanzando, mancando. Enquanto o tempo passava e, com apenas cinco centavos na mão estendida, ela começou a se desesperar e chorar pedindo ajuda.

Outra mulher, coberta com uma capa de chuva e se apoiando em duas bengalas, vira pra mim e diz " Eu tenho dó, mas não posso ajudar! Sou guardadora de carros duas ruas pra frente e luto pra me sustentar. Essa mulher era forte. Gorda. Hoje está assim tão magra. É de tanto passar fome nas ruas. E beber." A senhora, guardadora de carros, toda molhada, (que podia ter a idade da minha avó e exibia um rosto queimado) se compadecia da mulher que ela viu definhar nas ruas de São Paulo.

Um homem também com capa de chuva participou da conversa. "O pior é que se a gente dá alguma coisa a gente sabe que eles vão gastar com drogas! Eu sempre vejo o pessoal na rua aqui e lá no centro. Graças a deus eu não caí nessa vida. Também sou desempregado, mas tenho três filhas pra criar! Eu era mecânico. Durante o dia eu ando de mecânica em mecânica oferecendo um serviço. Uma troca de olho ou manutenção. Aí a noite eu vendo isso aqui [umas pulseiras coloridas de silicone]. Foi idéia da minha filha mais velha. Ela tem dez anos e disse que está na moda e vai vender!"

A chuva já ia parando e o meu ônibus chegou. Agradeci a conversa e desejei sorte. O homem (mecânico desempregado, pai de três filhas) e a senhora guardadora de carros me disseram "Vá com deus".

Mesmo não sendo religiosa, eu entendo o significado de carinho e atenção que isso significa pra quem crê. E por isso, me despedi agradecendo. Mas mesmo não tendo passado nem ao menos uma noite da minha vida ao relento, ainda assim não sei o que sentiria se tudo o que eu tenho estivesse numa sacolinha plástica.

Além da tristeza que senti e das lágrimas que eu segurei nos olhos, senti muita indignação! A prefeitura de São Paulo tem como um de seus deveres garantir as necessidades de sua população e, queiram ou não, nela se incluem os moradores de rua. Não devemos dar esmolas porque sustentamos vícios? Então criem condições de atendimento aos moradores de rua.

Dizem que com o tempo a gente se acostuma... Mas a população só se acostuma a virar o rosto e fingir que não vê enquanto uma pessoa definha a ponto de perder sua humanidade.

É muito triste, mas não quero fechar os olhos. Não quero me acostumar!

Foto retirada de: http://colunas.revistaepocasp.globo.com/centroavante/2010/05/31/novo-censo-sobre-moradores-de-rua/

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